domingo, 13 de janeiro de 2008
A Matança do Porco
Tudo começava quando a porca paria ou o meu pai trazia da feira de Moimenta um ou dois bácoros. Eram-nos apresentos na grande sala. Nessas salas que tinham a trave, os caibros e as telhas à mostra e negras da fuligem que escapava da cozinha.
Depois de cevados durante uma temporada, chegava Dezembro, e na véspera da matança apenas se lhes dava comida ligeira, para a tripa ficar mais vazia.
Vinha o dia aprazado e logo de manhã cedo se preparava o ambiente para a matança: a água, a palha, a corda, o banco, pedras para esfregar o couro do cerdo, alguidar para o sangue, o chambaril, a adega onde iria ser pendurado, etc.
Chegava o Sr. Zé Carniceiro, como era chamado na aldeia, com os seus apetrechos. Na quintã iam-se juntando os ajudantes. O matador entrava no cortelho. Procurava a bizarma e tentava enfiar-lhe a corda no focinho. Os grunhidos lancinantes antecipavam a morte anunciada. O animal preso à corda era arrastado para o banco do suplício. Um agarra-lhe o rabo, outro uma pata, outro uma orelha. Finalmente o animal é deitado no banco e o Sr. Zé prende o focinho à tábua rechada do banco. Preso o animal, coloca-se o alguidar com um pouco de vinagre no fundo por baixo da garganta do cerdo. Imobilizado, eis que o matador espeta a faca no pescoço do porco. A chiadeira é estridente. o sangue cai a jorros no alguidar. O porco ainda esperneia. Tenta mexer a cabela mas sente-se impotente. Dá ainda uma patadas a quem o segura nas traseiras, mas os homens seguros do que estão a fazer dominam o bicho. Mais umas esperneadelas. Mais um esticão. Vem o desfalecimento a caminho da morte. E tudo se prepara para a fase seguinte: a limpeza do animal.