Corre o ano de 1978. Numa tarde de junho/julho, percorro a rua em frente
ao Museu Machado de Castro, em Coimbra, e deparo-me com um aglomerado de
pessoas. Num pátio em frente ao portal do Museu, vejo ainda um pequeno grupo. Pergunto o que se passa. “Estão
a filmar o Amor de Perdição!”, respondem-me baixinho e de um modo
expectante. E, de facto, vejo atores, o homem da câmara, e um senhor que
dirigia os trabalhos - era o cineasta Manoel de Oliveira.
De vez em quando, ouve-se a palavra: “coooorta…!”. Alguém
explica: “foi o ruído de uma motorizada”, que entretanto passara lá
longe do local onde decorriam as filmagens. E, passados uns instantes, Manoel
de Oliveira repete: “aaaaaaaaação!!!!,
seguido de mais um “coooooorta!”.
Desta vez, tinha sido o revólver do Simão que se tinha negado a disparar para o
ar. Novamente: “aaaaação!” E
repete-se a cena. E eis, que ao longe, mais um ruído. Agora, proveniente de uma
aeronave. E um “cooooooorta!”, mais
uma vez. Ainda se ouvem mais uns “aaaaação!”
e uns “coooorta!”, ou por causa do
revólver que só disparara um tiro (e não dois como estava previsto) ou por mais
um barulho, por isto ou por aquilo.
E, a partir deste ver "in loco”, comecei a apreciar o cinema de outro modo e a respeitá-lo ainda
mais.