Quando eu e o meu irmão éramos miúdos, a nossa "praia" era o Gode. O Gode era uma espécie de açude, numa ribeira, com locais profundos e baixos, situado a um quilómetro e meio da aldeia, aproximadamente. Íamos por um caminho com aquelas paredes de pedra típicas da Beira Alta. Em dias de canícula, essencialmente aos domingos, lá íamos nós tomar banho ao Gode. Para que os nossos pais não nos vissem (pois estávamos proibidos por via dos afogamentos) esgueirávamo-nos por entre as paredes para que a nossa mãe não nos visse do terraço. O mesmo fazíamos no regresso. Foi aí que aprendemos a dar as primeiras braçadas de natação (se a isso se podia chamar natação). Gostávamos de apreciar os saltos mirabolantes que alguns dos nossos colegas faziam do alto de um enorme calhau, no local mais profundo, a que nós não nos aventurávamos. Todos andávamos como Deus nos deitou ao mundo. Essa coisa de calções de banho era para os fidalgos, para quem tinha posses, para quem podia ir para as praias da Póvoa do Varzim, da Figueira da Foz ou de Mira. Eram dias felizes, não só pela liberdade que sentíamos, mas também por algum prazer no comportamento cometido de um modo clandestino.
Hoje, vamos para a praia: pomo-nos ao Sol, nadamos, comemos, dormimos, mas nada tem aquele encanto e aquele sabor que tínhamos nessa época.