Depois das aulas da manhã, no Liceu Latino Coelho, em Lamego, Manuel e Mário dirigiram-se para casa, depois de descerem as ruas de Almacave e da Olaria.
Já nas aulas, o Manuel começara a sentir-se mal com dores de barriga. "Talvez fosse fome", comentou para com os seus botões. Mas, durante o almoço, a situação manteve-se, e não conseguiu comer praticamente nada. Um chá para aqui, outro para acolá, mas nada. "Talvez um saco de gelo na barriga lhe faça bem!", opinou a D. Ricardina. Tudo na mesma. As dores continuavam, se é que não tinham aumentado. "Há que levar o rapaz ao hospital!", sentenciou alguém. Transportado o doente ao estabelecimento hospitalar pelo Sr. Maia, dono da casa, e depois de realizadas as respectivas análises, havia que operar urgentemente o paciente. Tratava-se de uma apendicite aguda. E, por volta das 22 horas desse mesmo dia foi operado - o Manuel ainda hoje se recorda de ir deitado na marquesa, meio sonâmbulo, entrar na sala de operações e ver os holofotes por cima dele, que lhe pareciam as estrelas que via na aldeia, à noite. Só que as da sala de operações eram muito maiores e estavam muito perto de si. Enquanto era operado, lá iam falando com ele, mas dores nem vê-las. "Ele há coisas!...", pensou ele. Até que adormeceu e acordou no dia seguinte na cama da enfermaria.
Mais ou menos à mesma hora que o Manuel acorda, entra o Mário no hospital. No corredor, encontra-se com um senhor, de bata. Deduz que fosse médico, pelo estetoscópio que levava ao pescoço. Este, admirado e aos berros, diz-lhe que vá imediatamente para a cama. Podia lá ser tal coisa: "Operado ontem e ele aqui a passear-se pelo corredor! Ai esses pontos que estoiram todos!" Mas o Mário, matreiro, que se apercebeu da confusão que se passava na cabeça do cirurgião, disse-lhe que já se sentia bem.
"Aqui há marosca!" - pensou o médico que o havia operado. Por via das coisas, dirigiu-se ao quarto onde devia estar o recém operado. Aí o encontrou, abatido, branco, a descansar. Ficou aliviado e deduziu que um era a fotocópia do outro.